segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Muro de Berlim, 20 anos depois…


Celebram-se hoje os vinte anos da Queda do Muro de Berlim. O Martelo da Filosofia não poderia deixar passar esta efeméride, pese embora o receio de que tenha pouco significado para todos aqueles que não viveram a Segunda Grande Guerra e os acontecimentos que se lhe seguiram. A Guerra Fria, alimentando-se do medo de um conflito nuclear entre as duas super-potências, ainda estará contudo na memória dos mais velhos. Em boa verdade, a globalização de que se fala hoje a propósito de tudo e mais alguma coisa, nunca foi tão real como então.

O Muro de Berlim é, provavelmente, o mais expressivo símbolo da Tirania na memória do Homem actual. Sabemos que a passagem do Tempo tende a suavizar os contornos da História. Ditosamente, pedaços do Muro podem ser comprados hoje em Berlim, velhas relíquias evocando um qualquer acontecimento passado, já longínquo e esquecido. Olhando para o mundo de hoje, é uma paisagem triste e angustiante que se nos depara. A URSS já não existe, mas a Rússia continua e o seu relacionamento com a Europa e Estados Unidos da América mantém, em larga medida, as idiossincrasias herdadas dos tempos do Muro. Enfrentamos a possibilidade de um Irão Nuclear. A Coreia do Norte e o Paquistão são já potências nucleares. O aumento exponencial do fanatismo religioso, em particular nos países que se sentem vítimas do novo colonialismo Ocidental, faz-nos temer o pior. As alterações climáticas e a falência do Capitalismo constituem-se como assustadoras ameaças para a Humanidade.

A queda do Muro de Berlim oferece-nos duas lições de grande valor. Em primeiro lugar, a de que a Tirania pode ser confrontada e derrubada pelo Povo. Em segundo lugar, também a de que o triunfo da Liberdade nunca é definitivo. Terá de ser permanentemente renovado, não apenas pela nossa vontade, mas também pela fundamentação ética dos nossos princípios mais valiosos, dos quais destacamos, naturalmente, a Liberdade.

Este seu vigésimo aniversário representa não só uma oportunidade para recordarmos o que estava em jogo na Guerra Fria, mas igualmente para avaliarmos o que continua em risco, no eterno combate pela Liberdade. A queda do muro não foi o fim de um pesadelo já distante, mas tão-somente o terminar de apenas mais um triste capítulo da nossa história recente.

6 comentários:

  1. Carlos disse...
    Caros colegas e formandos,
    É com grande gosto que comento a V. alusão à queda do muro.
    Para além do que sabemos da História sobre a construção e queda do muro não há nada, mas nada como ir visitar essa fabulosa cidade. Se há cidade em que merecemos investir dinheiro em visita, Berlim é, sem dúvida, uma excelente opção.
    Estive lá há 3 anos. Levei o meu filho. Foi uma lição não só de História, mas de Vida. A Berlim cosmopolita não tem tabus. Estaleiro há 20 anos, a cidade é um hino à excelência da arquitetura.. Potsdamer Platz, Sony Centre, Alexander Platz... a Igreja do Dente Furado, os Palácios, as Praças, O Grande Tiergarten (parque gigantesco no coração da urbe), o Reishtag, eu sei lá! Depois, há a vivência mundana, dos cafés onde se come e bebe, foliando, a bom preço. Há cerca de 65 Km de canais navegáveis, o maior Zoo da Europa, a maior estação de comboios, a Música, a Opera, a Arte (imensos artistas de vanguarda, experiências), o Checkpoint Charlie, a Unter Den Linden, as lojas de luxo, os bairros orientais, a exposição Topografia do Terror (impressionante)e a enorme Ilha dos Museus, onde encontramos dos mais maravilhosos museus do planeta: o Neues Museum e o fantástico, indescrítivel Pergamon Museum!
    Berlim é linda e segura: uma cidade em que se pode viver feliz e livre.
    Somos todos berlinenses!
    Visitem-na, não é cara. Aluguem um apartamento. Visitem Potsdam (25 Km)e podem ir de carro alugado até Dresden. Entregam o carro, apanham um comboio até Praga e regressam por essa cidade. Foi o que fiz e valeu bem a pena.
    Fica a sugestão!

    11 de Novembro de 2009

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  2. O Muro de Berlim..... não se tem falado de outra coisa nos últimos dias... Há quem diga que a propagando à queda do muro tem sido levada à exaustão por causa da tão grande crise que que o capitalismo atravessa, ou seja, por uma necessidade de afirmação, de propaganda. Sem querer defender o que se passava na RDA, porque acho que todos os governos devem resultar de eleições, não posso deixar de referir o muro que actualmente está a construir Israel para isolar a Palestina ou o muro que os Estados unidos estão a construir na fronteira com o México.Para já não falar do muro entre ricos e pobres do mundo globalizado. Porque é que que pouco se fala disso? Acaso ou algum propósito no qual valerá a pena reflectir?
    A história é muito complexa e não podemos ler a que nos é contada só pelos historiadores pró-ocidentais.

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  3. Olá Paula. Obrigado pelo teu comentário. Tens razão. A verdade há-de ser sempre instrumentalizada. Concordamos contigo que há muitos "muros" para derrubar. Os mais fáceis são porventura os de betão. Quanto à Cortina de Ferro, bem, concordarás talvez que um dos problemas de uma certa esquerda, é o admitir o horror que foi o stalinismo.

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  4. Eu comecei logo por dizer que repudiava o socialismo autoriritario que se praticou na ex- União soviética e seus satélites. Não enfio, portanto a carapuça. Só disse que a história é complexa e não podemos deixar-nos intoxicar pela propaganda oficial dominante. E já que a internet entusiasma tanto, porque não empregar um bocado do tempo a vasculhar nuns sites alternativos ao pensamento único? E termino com o desejo de que todos os muros sejam lembrados e abolidos e lembrando os 20 milhões que do lado soviético pereceram na guerra ao lado dos aliados....

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  5. Olá Paula. Não duvidamos, por um momento, que repudies qualquer forma de autoritarismo! Isso significaria que terias abdicado da tua condição de filósofa. Fizemos somente referência a uma interpretação corrente dos factos em análise (quiçá, a antítese da interpretação burguesa e liberal da Europa), defendida por uma certa geração de intelectuais que se recusa a ler o Gulag. Qual a origem deste complexo? Não sabemos, mas talvez um desejo, aliás muito louvável em si: a realização de uma sociedade onde os homens fossem realmente iguais, livres e felizes! Essa sociedade, porém, não se realizou na URSS. Talvez o comunismo soviético tenha sido uma fase na realização de um devir que nos conduzirá finalmente lá. Poderiamos ainda questionar "se a Rússia de Stalin não seria preferível à Alemanha de Hitler?"...é quase questão para dizer, venha o diabo e escolha! Veremos o que o futuro nos reserva. Percorremos já, é certo, um longo caminho desde a horda primeva!
    A Liberdade é a condição necessária da actividade crítica. Todos temos as nossas razões, ou racionalizações, como queiras; a questão é saber se são justificadas, Como saberás, enquanto estimada leitora do nosso blogue, a metáfora do martelo significa que "há mais ídolos do que realidades neste mundo"; não nos impressionam as formas coloridas como se projectam na "caverna da propaganda".
    Obrigado e votos da equipa para que continues a colocar aqui as tuas questões e comentários, porque é essa, em última análise, a verdadeira "raison d'être" do nosso blogue.

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  6. Bem, a discussão aqui está quente e de grande nível. Como já é tarde não vou deitar nenhuma gasolina na fogueira!:-)

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